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Fragmento de “Os Deuses e o Homem: uma nova psicologia da vida e dosamores masculinos” de Jean Shinoda Bolen, editora Paulus, 2002, pág. 430-434.

“Em A New Science of Life: The Hypothesis of Formative Causation (1981), Rupert Sheldrake, biólogo teórico, propõe nova e radical teoria sobre como as coisas vivas aprendem e adquirem novas formas. Sua teoria apresenta uma explicação de como novos arquétipos podem surgir e, com isso, como a natureza humana pode se modificar.

A hipótese de Sheldrake é a seguinte: quando um comportamento é repetido número suficiente de vezes, forma “campo morfogenético (ou seja, formador de formas)”. Esse campo (que Sheldrake agora denomina “mórfico”) tem uma espécie de memória cumulativa baseada no que aconteceu com aquela espécie no passado.

Todos os membros dessa espécie (não só os organismos vivos, mas também moléculas de proteína, cristais e até mesmo átomos) se sintonizam com o seu campo mórfico particular, que atravessa o espaço e o tempo num processo chamado de “ressonância mórfica”.

No reino dos cristais, por exemplo, diz a teoria que a forma ou a estrutura que os cristais adquirem depende das características do seu campo. Além disso, um novo composto é difícil de cristalizar pela primeira vez, mas depois dessa ocasião inicial vai ficando cada vez mais fácil a cristalização por causa da influência do campo mórfico ( ou “memória”) de cada cristalização anterior.

Esse é o fato que os químicos conhecem muito bem, diz Sheldrake.

Quando aplicamos a nós, a teoria de Sheldrake também explica como as mudanças fundamentais (ou arquetípicas) nos seres humanos poderiam ocorrer. No princípio, mudança de atitude ou comportamento é difícil, mas conforme vai crescendo o número de pessoas que mudam, torna-se progressivamente mais fácil para outras pessoas fazerem o mesmo, e não só mudarem por influência direta.


Segundo Sheldrake, as pessoas sintonizam sua atenção no novo padrão, dentro do campo mórfico, pela ressonância mórfica, e são atingidas por ele, o que explica por que as mudanças vão se tornando cada vez mais fáceis. Em determinado ponto, alcança-se o número certo de indivíduos para que haja a inversão no equilíbrio de forças: nasceu um novo arquétipo no inconsciente coletivo.

O próprio Sheldrake igualou as duas idéias:

A abordagem que defendo é muito semelhante à noção junguiana de inconsciente coletivo. A principal diferença é que a idéia de Jung era basicamente aplicada à experiência humana. O que sugiro é que um princípio muito semelhante atua em todas as partes do universo, não só no reino humano.

O centésimo macaco: um mito contemporâneo

O Centésimo Macaco é o nome de um novo mito. Trata-se de história que apareceu, é repetida e serviu de tema literário apenas nos últimos vinte anos. Tem origem muito recente e, no entanto, como os mitos gregos a respeito da Guerra de Tróia, não está claro onde terminam os fatos e começam as metáforas. A história se baseia em observações científicas sobre colônias de macacos no Japão. A versão mais amplamente difundida escreveu-a por Ken Keyes Jr., que apresento a seguir em forma condensada e parafraseada.

Ao longo da costa do Japão, os cientistas estudam colônias de macacos habitantes de ilhas isoladas, há mais de trinta anos. Para poder manter o registro dos macacos, eles colocavam batatas doces na praia, para que os animas as comessem.

Os macacos saíam das árvores para pegar as batatas e, assim, expunham-se a ser observados com total visibilidade. Um dia, uma macaca de 18 meses chamada Imo começou a lavar a sua batata no mar, antes de comê-la. Podemos imaginar que seu sabor tornava-se assim mais agradável, pois o tubérculo estava livre da areia e do cascalho e, talvez, ligeiramente salgada.

Imo mostrou aos outros macacos de sua idade e à sua mãe como fazer aquilo; os animais jovens mostraram às próprias mães e, aos poucos, mais e mais macacos passaram a lavar as batatas em vez de comê-las com areia e tudo.

No princípio, só os adultos que tinham imitado seus filhos aprenderam o jeito novo; gradualmente, outros também adotaram o novo procedimento. Um dia, os observadores perceberam que todos os macacos de determinada ilha lavavam suas batatas doces.

Embora isso fosse significativo, o que foi ainda mais fascinante de registrar foi que, quando essa mudança aconteceu, o comportamento dos animais nas outras ilhas também mudou: todos eles agora lavavam suas batatas, e isso apesar do fato de que as colônias de macacos das outras ilhas não tinham tido contato direto com a primeira.

Ali estava uma validação para a teoria do campo morfogenético: era possível explicar dessa maneira o que acontecera. O “centésimo macaco” foi o hipotético e anônimo macaco que virou o jogo para a cultura como um todo: aquele cuja mudança de comportamento assinalou ter sido alcançado o número crítico de macacos que modificaram sua conduta, e após o qual todos os animais de todas as ilhas passaram a lavar as suas batatas.

O Centésimo Macaco é uma alegoria da Nova Era que oferece esperança às pessoas que trabalham para operar mudanças em si mesmas e salvar o planeta, às vezes duvidando de se seus esforços individuais, afinal de contas causarão alguma diferença. Como mito, o Centésimo Macaco é declaração que reafirma o compromisso de trabalhar por alguma coisa, como livrar a Terra das armas nucleares, ainda que por longo tempo o efeito desse trabalho não seja visível.

Se é que há um centésimo macaco, é preciso que haja um equivalente humano de Imo e suas colegas; alguém tem de ser o vigésimo sétimo, o octogésimo primeiro e o nonagésimo nono macaco para que então novo arquétipo passe a existir.

A hipótese de Sheldrake nos oferece uma explicação para as mudanças que acontecem numa espécie por meio de atos de indivíduos que, em determinada fase, começam a fazer uma coisa nova. Se o filho de Métis deve suplantar Zeus em dada cultura, essa mudança pode acontecer apenas depois que um número crítico de homens (e mulheres) individuais confiarem mais no amor que no poder, e basearem seus atos nesse princípio.

Quanto mais aumentar o número das pessoas que se comportam assim, mais se tornará fácil que mais pessoas ajam da mesma forma até que, um belo dia, alguém será o anônimo centésimo macaco.

A maioria dos homens e das mulheres, porém, não sente sequer a necessidade nem a fé de que pode enfrentar a idéia de mudar o mundo.

Os que chegam de fato a tentar são encorajados pelo centésimo macaco, porque é mito que descreve aquilo que se sentem atraídos a fazer, de toda maneira.

Sempre que nos reconhecemos num mito, sentimo-nos fortalecidos. O mito que desperta em nós a sensação de “Ah!” ajuda-nos a nos manter fiéis ao que nos mobiliza no fundo de nosso ser, nos incentiva a continuarmos sendo o mais autênticos que pudermos.

Além de falar àqueles que se percebem intimamente motivados a fazer diferença no mundo externo, o Centésimo Macaco é também metáfora para o que se desenrola dentro da psique individual. No mundo interno, fazer é tornar-se: se repetimos vezes suficientes um comportamento motivado por uma atitude ou princípio, ao final de um tempo terminaremos tornando-nos o que fazemos.”


Conteúdo inserido em junho / 2007   |   Atualizado em 11/06/2022

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3 comentários

  1. Maria Goreti Tosto disse:

    Eu acabei de mostra o filme”data limite” para a cliente e ela me falou sobre essa experiência.
    E conclui que no atual momento em que vivemos….
    Temos que rezar, orar, vibrar, muito mas muito mesmo, para que os presidentes dos EUA e da Coreia do norte se acalmem que tenham mais amor ao próximo e não a si mesmos.
    Porque hoje sou eu orando, amanhã eu minha família, depois meus amigos ,vizinhos , minha cidade, meu país, meu continente….. E assim vai até chegarmos ao 100 macaco ….
    E pronto… Todos estaríamos numa mesma sintonia!!!!!
    Seria muito bom!!!

  2. Renato Roberti disse:

    Compreendo e percebo muito claramente que a vida é crescente. Gerando mais vida, a progressão desta vida vem de energias que se cristaliza provocando a reação do que chamo de concreto. Consequentemente tudo evolui para se aprimorar e não denegrir. Em td e todos vejo o centésimo maciço.

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